terça-feira, 12 de abril de 2011

Partilhar lideranças nos espaços público e privado, na Lixa

No sentido de alargar o seu campo de intervenção, e em resposta ao desafio colocado por Aurora Silva, dinamizadora deste projecto, organizamos um workshop com metodologia de aprendizagem pela conversa na pequena cidade da Lixa, na Casa do Povo, com várias pessoas, estudantes da Universidade Sénior e Ocupacional da Lixa e alguns familiares, com um leque diversificado de idades, desde os 34 até os 80 anos.

Ao longo de um intenso dia de trabalho, abordámos várias experiências de liderança em diferentes esferas de vida quotidiana: profissional, familiar, cívica e política e várias experiências de conciliação entre as várias esferas de vida, verificando que, não poucas vezes, a esfera pessoal das mulheres tem sido sacrificada, originando situações de extremo cansaço e até o diagnóstico de algumas depressões.

O exemplo de Maria de Lourdes Pintasilgo surgiu enquanto mentora deste projecto e como a mulher que mais influência social e política teve na sociedade portuguesa dos últimos 40 anos, tendo sido indigitada Primeira-ministra para chefiar o V Governo Constitucional, incumbido de preparar as eleições legislativas, entre Julho de 1979 e Janeiro de 1980, e candidata independente às eleições presidenciais de 1986:



“Quando falo na questão do poder, vou ainda mais longe. É que uma parte integral da acção para uma mudança política – essa mudança que pode tornar as pessoas capazes de outra vida, ao menos com condições mais felizes – é uma redefinição do nosso «eu»: quem sou e como vivo em relação às coisas, aos objectos, em relação ao tempo, em relação ao poder. E nós, mulheres, temos que fazer para nós próprias essa redefinição.” (Pintasilgo, 1982, cit. in Koning, 2005, p. 26).

“O ser humano é um ser de vulnerabilidades, que em numerosas situações o impedem de se erguer para defender os seus direitos. Assim, não bastará acrescentar piedosamente à democracia política a democracia social, económica e cultural. Haverá que construir a democracia simultaneamente sobre a justiça e o cuidado, sobre os direitos e as responsabilidades”. (Pintasilgo, 1982, cit. in Koning, 2005, p. 17).






























segunda-feira, 11 de abril de 2011

4º Workshop na ESE, 8 de Abril

No último workshop realizado dentro da parceria estabelecida com a Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto, destacamos a necessidade que tivemos de reflectir sobre alguns conceitos que a psicologia e sociologia do género têm questionado, nomeadamente os tradicionais estereótipos e papéis sociais, diferentemente atribuídos a mulheres e a homens:


Será importante designá-los por estereótipos e papéis de género ou mantê-los como estereótipos e papéis sexuais?


Como poderemos desconstruir a ordem social, estruturada e hierarquizada por sexo, e promover a igualdade entre homens e mulheres, se mantivermos a naturalização dos traços, tarefas e papéis sociais de acordo com um binarismo sexual que distingue a condição feminina da condição humana, representada pelo homem? Haverá uma condição masculina?


Se a condição está desigual à partida, estruturada numa sociedade androcêntrica, como poderemos construir uma igualdade de mulheres e de homens?


Como poderemos evitar uma subtil sociedade machista, comandada pelo sucesso individual, ao tolerar as piadas sobre a incompetência das mulheres?













quinta-feira, 7 de abril de 2011

Um Percurso de Literacia com a EAPN Portugal em Esposende

Decorrente da participação de Isabel Amorim e Fátima Veiga no workshop realizado em parceria pela Fundação Cuidar o Futuro e a EAPN Portugal, em Dezembro de 2010, em Vila Verde, foi delineado um Percurso de Literacia conjunto para fortalecer a EAPN Portugal na intervenção sobre a igualdade de género. Priorizados os interesses institucionais, optou-se pela organização de um workshop dentro da tipologia de "Promover a qualidade de vida pela igualdade de género" aberto às redes de colaboração do Núcleo Distrital de Braga da EAPN Portugal e orientado para necessidades destas instituições.

Também em conjunto, foram definidos os objectivos para este workshop:

Promover um processo de reflexão sobre representações, discursos e práticas de intervenção em torno das lideranças emergentes em contextos profissionais, comunitários e familiares;


Promover a construção de uma rede de mediadores/as socioculturais, multiplicadores/as de percursos de sensibilização para a igualdade de género e a qualidade de vida através de lideranças partilhadas.



Os textos-desafio foram seleccionados pelas técnicas da EAPN Portugal dentro das opções oferecidas pelo livro Rede Mulheres 25 Anos Depois:

Poder – Energia para a Acção
Muitas vezes o poder está disponível para gerirmos esse poder, para podermos agarrar nele e dele tirar o melhor rendimento, para podermos fazer ou inventar algo de novo. E não é mal nenhum pensar que esse sentido do nosso próprio poder nos fornece energia para a acção.
Muitas vezes não agimos porque, sobretudo nós enquanto mulheres, ainda lidamos mal com o poder.
Quando falo na questão do poder, vou ainda mais longe. É que uma parte integral da acção para uma mudança política – essa mudança que pode tornar as pessoas capazes de outra vida, ao menos com condições mais felizes – é uma redefinição do nosso «eu»: quem sou e como vivo em relação às coisas, aos objectos, em relação ao tempo, em relação ao poder. E nós, mulheres, temos que fazer para nós próprias essa redefinição (Pintasilgo, 1982 , citada em Koning, 2005: 26).


Tem que haver um processo interior
Eu posso agora falar da minha experiência, talvez seja contrária, dado que as vossas experiências são de sucesso. A primeira experiência que tive de liderança, eu estava à frente de um grupo de miúdas dos dez aos catorze, quando eu tinha dezanove anos. E acho que foi uma péssima experiência de liderança da minha parte. Claro que por um lado senti-me abafada pelas outras que estavam a liderar comigo. Depois sentia que havia uma certa falta de maturidade, de auto-conhecimento meu, e uma certa incapacidade de tomada de decisão… sendo que, ora deixava muita coisa a andar, ora de repente surgia em mim um autoritarismo para controlar a situação, que já estava descontrolada. E havia também uma certa incapacidade… por um lado, eu sentia que tinha um lado de humanização, de preocupação para com as miúdas, e para com o grupo que eu tinha à frente… mas também uma certa incapacidade de transmitir essa afectividade, com as dificuldades de gerir a autoridade, a afectividade, sem saber muito bem como geria as duas coisas.
Mas foi a única experiência de liderança que tive, em que estive à frente de qualquer coisa! Depois disso nunca mais estive à frente de nada.
De facto, as mulheres que eu vi como líderes, que… o género de liderança que eu gostei muito, daquelas pessoas sobre mim, foram aquelas mulheres, de facto - ou homens, tanto faz – que acreditaram em mim, e que puxaram pelas minhas potencialidades, e que, no fundo através do acreditar em mim, fizeram que eu acreditasse em mim própria. Sendo que eu acho que não basta só uma pessoa acreditar em nós… Tem que haver um processo interior de conscientização, de auto-consciência, de auto-conhecimento, de maturação, para que a pessoa, se não é confiante, se não tem essas características de líder, que eu acho que não tenho, para surgir essa auto-confiança e essa capacidade de… se calhar de tomar decisões, e é aí, é na vida pessoal, é na vida profissional, é em todo o sítio!

A cidade de Esposende foi o local escolhido para a realização do workshop, que contou com a cooperação da Câmara Municipal de Esposende na captação de participantes e na cedência do espaço, a Casa da Juventude. A dinamização ficou a cargo de Cláudia Múrias, coordenadora do projecto.