sexta-feira, 3 de junho de 2011

"Percursos de Literacia para a Não Violência" no Seminário Internacional "Amor, Medo e Poder"

"No contexto de um frágil e fragmentado movimento feminista, a violência de género e doméstica em Portugal, evoluiu numa lógica top-down, a partir das recomendações da União Europeia e das Nações Unidas. Este contexto político contribuiu para que os serviços para mulheres vítimas sejam mais um produto do papel do Estado, e do respectivo terceiro sector, e não o resultado das pressões dos movimentos sociais. Uma das principais consequências deste contexto tem sido a ausência de vozes das mulheres vítimas e a sua exclusão das dinâmicas dos movimentos sociais". "Embora Gayatri Spivak tenha questionado a possibilidade de os grupos sociais subalternos terem voz e fazerem-se ouvir, o processo de tomar a palavra e pressionar politicamente são importantes dimensões dos movimentos sociais, assim como da sua agência política. No que respeita a violência doméstica e de género, a participação das mulheres sobreviventes demonstrou-se fundamental para evitar o neocolonialismo e o ventriloquismo de algumas concepções de “ajuda à vítima”.

"Vozes, agência e movimentos sociais são fundamentais para a transformação social, quer na sociedade alargada, quer nas relações íntimas".




Para contribuir para a reflexão acerca das respostas sociais às vítimas de violência doméstica, nomeadamente, através de uma intervisão entre activistas e profissionais que trabalham em casas de abrigo e em centros de atendimento, no sentido do apoio mútuo e da partilha de práticas empoderadoras quer de profissionais e activistas, quer das mulheres vítimas, fomos convidadas a apresentar o trabalho que temos vindo a desenvolver no Lideranças Partilhadas, no Seminário Internacional Amor, Medo e Poder, realizado nos dias 30 e 31 de Maio de 2011, na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, por Maria José Magalhães, Investigadora Principal do projecto, Presidente da Comissão Organizadora do seminário e Presidente da UMAR.




Ficam aqui algumas ideias apresentadas:



"Eu acho que li isto algures, foi dito por uma feminista: ‘eu não quero que as mulheres tenham mais poder do que os homens, eu quero que elas tenham mais poder sobre si próprias e o seu poder de decisão". O tema é mesmo o respeito pela individualidade e pela singularidade de cada um. Se cada um se respeitar a si e conseguir respeitar o outro, o espaço e a diversidade que acompanha os contextos e as vivências de cada um... Acho que, aí, conseguia-se, realmente, alcançar a igualdade de género. O próprio nome indica, igualdade. Não é ser inferior ou superior a ninguém. É estarmos no mesmo patamar sabendo que realmente há diferenças de género. Há! É homem e é mulher. Também foi feito diferente. Mas é lutar pela igualdade, não é ser superior nem inferior”.



“O conhecimento é também uma forma de poder, e poder de transgredir aquilo que está instituído e portanto… e confundimos muito as coisas com a ordem natural, como se fosse assim, ponto final. E pela conversa, nós percebemos que as coisas não são assim ponto final, porque nos fizeram crer que eram assim. E nesse sentido, há aqui uma acção que pode ser libertadora. E falamos muito na questão… do facto da conversa poder estar associada aos sentimentos, o que é que as pessoas sentem nestas partilhas…”



“Essa liderança partilhada seria, justamente, a possibilidade de todos terem voz através de uma negociação, chegar a consensos em que todos ganham… saber lidar com as emoções. Porque saber lidar com as emoções, também é saber impor limites. É saber perceber, conseguir estar no lugar do outro, perceber o que se passa no outro, perceber a visão do outro e o outro tem que perceber que há limites”.











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